terça-feira, 2 de outubro de 2012

O que acontece com a educação brasileira é catastrófico (Rubem Alves)

Escola da Ponte Países desenvolvidos já vem há algum tempo desenvolvendo um novo método de ensinar nas escolas. São as chamadas escolas livres ou democráticas. Nessas escolas não há grades curriculares. Cada aluno escolhe o que quer estudar e o faz no seu próprio tempo, claro que sempre tendo o auxílio de um docente da escola.

Pena que em nosso país haja tão pouca liberdade para os pais escolherem o que é melhor para os seus filhos em se tratando de educação escolar. As poucas exceções que temos no Brasil são as escolas Montessori e as Waldorf que, por serem particulares, não têm como atender a todas as camadas da população.

Rubem Alves, numa entrevista, diz que a pior coisa que ele conhece na educação é a tal de “grade curricular”, ou, segundo ele, “Os nossos programas (escolares) seguem o modelo da linha de montagem: todos devem aprender a mesma coisa, no mesmo momento, na mesma velocidade.”

Crianças não são peças de uma linha de montagem, portanto o nosso sistema educacional está fadado ao fracasso como as estatísticas vem demonstrando. O mundo mudou e o sistema educacional continua o mesmo. Aff!

Abaixo vejam uma parte do projeto educativo de uma escola portuguesa situada em Vila das Aves, a cerca de 30 quilômetros da cidade do Porto, que segue o sistema escola livre.

Projeto educativo da Escola da Ponte

SOBRE ALUNOS E CURRÍCULO

1 - Como cada ser humano é único e irrepetível, a experiência de escolarização e o trajeto dedesenvolvimento de cada aluno são também únicos e irrepetíveis.

2 - O aluno, como ser em permanente desenvolvimento, deve ver valorizada a construção da sua identidade pessoal, assente nos valores de iniciativa, criatividade e responsabilidade.

3 - As necessidades individuais e específicas de cada educando deverão ser atendidas singularmente, já que as características singulares de cada aluno implicam formas próprias de apreensão da realidade. Neste sentido, todo o aluno tem necessidades educativas especiais, manifestando--se em formas de aprendizagem sociais e cognitivas diversas.

4 - Prestar atenção ao aluno tal qual ele é; reconhecê-lo no que o torna único e irrepetível, recebendo-o na sua complexidade; tentar descobrir e valorizar a cultura de que é portador; ajudá-lo a descobrir-se e a ser ele próprio em equilibrada interação com os outros - são atitudes fundadoras do ato educativo e as únicas verdadeiramente indutoras da necessidade e do desejo de aprendizagem.

5 - Na sua dupla dimensão individual e social, o percurso educativo de cada aluno supõe um conhecimento cada vez mais aprofundado de si próprio e o relacionamento solidário com os outros.

6 - A singularidade do percurso educativo de cada aluno supõe a apropriação individual (subsecutiva) do currículo, tutelada e avaliada pelos orientadores educativos.

7 - Considera-se como currículo o conjunto de atitudes e competências que, ao longo do seu percurso escolar, e de acordo com as suas potencialidades, os alunos deverão adquirir e desenvolver.

8 - O conceito de currículo é entendido numa dupla asserção, conforme a sua exterioridade ou interioridade relativamente a cada aluno: o currículo exterior ou objetivo é um perfil, um horizonte de realização, uma meta; o currículo interior ou subjetiva é um percurso (único) de desenvolvimento pessoal, um caminho, um trajeto. Só o currículo subjetiva (o conjunto de aquisições de cada aluno) está em condições de validar a pertinência do currículo objetivo.

9 - Fundado no currículo nacional, o currículo objetivo é o referencial de aprendizagens e realização pessoal que decorre do Projeto Educativo da Escola.

10 - Na sua projeção eminentemente disciplinar, o currículo objetivo organiza-se e é articulado em cinco dimensões fundamentais: linguística, lógico-matemática, naturalista, identitária e artística.

11 - Não pode igualmente ser descurado o desenvolvimento afetivo e emocional dos alunos, ou ignorada a necessidade da educação de atitudes com referência ao quadro de valores subjacente ao Projeto Educativo.

Fonte: http://escoladaponte.com.pt/documen/concursos/projecto.pdf

Segundo a Alternative Education Resource Organization (http://www.educationrevolution.org/) , existem no mundo milhares de escolas livres desde as décadas de 1960 e 1970.

A AERO é o principal recurso para famílias que procuram por alternativas educacionais, iniciadores de centros de recursos/escola e pesquisadores de educação alternativa.

A missão do AERO é ajudar a conectar pessoas e grupos e compartilhar idéias relacionadas com a educação alternativa. O objetivo é ajudar as pessoas ao redor do mundo com experiências em educação centrada no aluno.

Saiba mais no site da AERO ou digitando num buscador: schools without grades.

Imagem: pedagogiaaopedaletra.com

12 comentários:

  1. professores educadores em sala de aula ou não:, Pais, Artistas, Artesãs, Poetas, Escritores(as), Culinaristas,Evangelizadores, Blogueiros( as), em fim, todos que ensinam e educam merecem no dia 15 de outubro ser homenageados(as).
    Um autor desconhecido escreveu assim:
    " Educador, como ninguém, você exerce com maestria essa função. Você professora.,já foi criança e... ontem você não entendia muitas coisas, hoje precisa se fazer entender, criar soluções. No seu dia-a-dia a sua capacidade de amar é colocada à disposição de todos. Quando você volta para casa, a tarefa ainda não está terminada, mas a sua consciência está em paz. Você corre em paralelo com o tempo para não ficar ultrapassado. Aceita-se todo por dentro para mostrar a seriedade que é exigida e ainda sorrir para aqueles que precisam de afeto. Na sua angústia existencial ainda se propõe a ajudar a quem procura. Você avalia. Que coisa difícil é avaliar. Aprova , reprova e finalmente recupera. Pelos caminhos da sua vida você vai encontrando tantas portas.....umas quase se fecham, quando deveriam se abrir. Tantas que se abrem, quando deveriam fechar-se, Portas sombrias, enferrujadas, à espera de alguém ansioso por um toque, outras escancaradas pela falta de responsabilidade e amor. E você, passo a passo, vai contribuindo para cada uma delas. Você transforma, ilumina, esclarece, compreende e vence o desafio. É o suave mistério da sua vocação. Como você é importante!!!"
    Ser professor não é um dom é uma escolha e se escolhemos exercer esta profissão devemos cumprir com amor, dedicação e preparo, está sempre disposto a aprender.
    Como diz Paulo Freire: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
    Feliz dia do professor e muito sucesso cada dia da tua vida! Abraços da amiga Lourdes Duarte.

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  2. Que lindo texto.
    Parabéns a você educadora! Você merece todo o meu respeito e admiração.
    Obrigada pela visita e abraços

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  3. Atena, Como vai?!

    Embora eu tenha sido uma aluna exemplar, nunca concordei com a “grade curricular” e os métodos. A China melhorou a educação, contudo, com uma carga enorrrrrme. Só que nem todas as crianças conseguem os mesmos resultados por diferenças pessoais. Outra coisa, é válido aprender o básico de algumas materias, mas para que estudar feito um louco sobre matérias que jamais usará na faculdade e na vida?! Talvez isso venha a desmotivar a compreensão e sucesso de outras materias mais importantes.

    Beijos

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  4. Sissym:
    A grade curricular é o maior atraso na Educação. Você disse tudo: "para que estudar feito um louco sobre matérias que jamais usará na faculdade e na vida?!"
    O outro atraso é o sistema de avaliação, exatamente pelo que citou, as diferenças pessoais.
    beijos e grata pela visita

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  5. Realmente, Atena, a grade curricular é um atraso, mas com a formação dos nossos docentes ela ainda é um mal necessário. Muito utópica a opinião de Rubem que muito gosto e prezo, mas as nossas escolas ainda levarão anos e anos para se desvencilharem das grades.

    A escola da PONTE, em Portugal, fadou-se a acabar não dando certo por conta de tamanha liberdade. Não somos iguais, somos únicos e tenho plena consciência disto, mas em salas de aulas superlotadas há que se ter parâmetros, caso contrário nem o elementar será atingido.

    Além do que, temos que EDUCAR os pais primeiro. E falo com conhecimento de causa. Lecionei pelo método PUERIDOMUS durante 3 anos, mas infelizmente não deu certo. Era um método que trabalhava em cima das liberdade de se ensinar e aprender, porém os próprios pais fizeram tanta objeção que a dona da escola teve que mudar para um método mais sistematizado se quisesse não falir...

    Gosto de divagar por estes textos e poder saber que haveria outra forma de se ensinar, mas falta muito para alcançarmos o melhor, quanto mais o ideal.
    Abraços, minha linda!!!!

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    1. Malu:
      Eu sei que é possível funcionar esse método aberto. Que eu saiba a Escola da Ponte continua de portas abertas, com matrículas para 2013.
      Claro que no Brasil isso vai demorar um tanto porque somos um país muito atrasado em matéria de educação escolar. Eu penso que o primeiro passo seria o governo acabar com o Vestibular, pois aí não haveria a necessidade da gente estudar aquele monte de conteúdo que nunca mais vamos precisar em nossa vida futura. Com essa medida os próprios pais teriam menos objeções a um sistema mais aberto.
      Nos Estados Unidos as escolas sem grade funcionam muito bem. Como americanos gostam de liberdade, lá é mais fácil os pais aceitarem.
      Beijos e obrigada pela contribuição

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    2. Só para constar amiga, deixo bem claro que sou contra a grade curricular sim, mas antes de retirá-la é preciso uma imensa reforma na própria formação profissional dos docentes... Quanto a escola da Ponte ela realmente ainda existe, mas tenho amigos em Portugal, profissionais da área, pois fiz pesquisa a pouco por conta de apresentação de estudos e eles dizem que não é esta maravilha toda que saem a gritar pelos quatro cantos...
      Bem, mas opiniões são opiniões. Beijinhos...

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  6. Oi Atena, ótimo post, adorei.
    A educação brasileria está um caos!
    Tenha um bom fim de semana, bjs.

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    1. Olá Arione:
      Obrigada pela visita e participação.
      bjs

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Olá... Li o post e visitei também o site (onde assisti ao vídeo) do projeto "La educacion prohibida". As ideias propostas são realmente encantadoras. Sim, é essa palavra mesmo que quis usar: "encantadoras". Por que acredito que essa nova forma de pensar a educação tem alguma coisa de "magia", pois a mim me parece um utópica demais.
    Não posso negar que existam de fato escolas que já trabalham há tempo com a filosofia da Educação livre, mas eu só consigo pensar nos meus alunos, na minha escola.
    Como é que "deixar que os alunos decidam o que, quando e como aprender" pode funcionar para que se eduque as massas?Imagina uma escola com mais de 1400 alunos como a que eu trabalho? Cada um é evidentemente único, diferente, tem habilidades diferentes, etc. Mas como é que se vai atender individualmente cada um deles?
    Além disso, a essa "escola nova" concebe o aluno como um ser responsável pelo próprio aprendizado e que por tanto tem a conciência de que precisa ir em busca dele. Mas o que acontece com as gerações de hoje é que se deixamos que escolham o que querem fazer a opção é mexer num Facebook, jogar um video game, curti com os amigos. Pode-se aprender nessas situações, mas aprender O QUE? PARA QUE?
    Eu acho que as discussões deveriam não focar tanto o "COMO ENSINAR", mas buscar refletir um pouco mais sobre "O QUE ENSINAR".
    Acho que em qualquer tipo de escola, metodologia, é possível que o aluno aprenda. A questão é: O QUE É NECESSÁRIO QUE O ALUNO APRENDA?
    Acredito que a escola deveria se reorganizar para ensinar coisas que nos ajudem a tornar o planeta um lugar melhor enfatizando, assim, as questões ambientais, políticas, sociais,econômicas,tecnológicas, emocionais, a convivência, a tolerância, os valores.

    Enfim... é só a minha contribuição para essa discussão.

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    1. Rita:
      Mudanças radicais não acontecem do dia pra noite, principalmente as que mexem com comportamento humano, mas tenho firme convicção que escolas com currículo livre são possíveis sim.
      Diga-me uma coisa: por que os alunos atuais só querem ficar nas redes sociais ou jogando vídeo games? Não será porque os conteúdos escolares são muito chatos? Afinal o aluno é obrigado a estudar conteúdos que futuramente nunca vai usar na sua vida rotineira.
      Sim “o que ensinar”, atualmente, é muito mais urgente mudar do que “o como ensinar”. Esse seria um segundo passo.
      Enquanto, no nosso país, a legislação do ensino partir dos políticos e não dos especialistas a nossa educação vai continuar sendo a porcaria que é.
      Há muito o que mudar, mas seria interessante que mais professores e pedagogos começassem a pensar diferente, com uma visão mais abrangente e mais centrada no aluno do que no currículo. Educação centrada no aluno não quer dizer atenção exclusiva a cada aluno individualmente, isso seria impossível na nossa realidade atual.
      Senti seu desespero, como professora atuante que é. Minha filha também é professora (séries iniciais) e conheço bem o dia a dia de vocês. Considero-as heroínas e têm toda a minha compreensão e admiração também.
      Gostei de sua contribuição ao nosso espaço, apareça mais vezes.
      abraços

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