terça-feira, 10 de janeiro de 2012

EM QUAL ESTAÇÃO PERDEMOS O TREM...

Gosto de prosear.

Quem proseia coloca naquilo que fala uma dose a mais de sentimento, energia, mágica. Retira de dentro o que há de mais profundo e simples, sem muito compromisso com teorias, mesmo sabendo que estas são importantes.

É sempre bom ter alguém para prosear e rever conceitos que sempre surgem nas divagações das prosas.

Às vezes as prosas têm rumo certo. Há vezes que vão tão longe que não se chega a resposta alguma e sim deixam mais perguntas... mas dizem que o que move o mundo são as perguntas então, que haja prosa para uma pergunta a mais, sempre!

Dias desses estava proseando com Rubem, sim, o ALVES - RUBEM ALVES.
Muitas vezes proseio com ele. Ele em seus livros e eu com meus olhos, atenta em todas as extensões de suas palavras.

Ele também proseava comigo, dizendo-me assim :


"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".

Então fiquei a pensar - EM QUAL ESTAÇÃO PERDEMOS O TREM? 

O trem da EDUCAÇÃO descarrilhou, perdeu os freios, saiu dos trilhos, revirou os dormentes... levantou cancelas e passou direto por muitas estações.

O amigo com quem detive-me à prosa fez-me pensar no desencantamento que a escola sofreu nos últimos anos por parte de todos seus elementos (aluno, professor, direção, políticas públicas, família).

Se antes tínhamos uma EDUCAÇÃO austera, dogmática, reprodutora e com ela o silenciar dos alunos e suas estáticas atuações hoje temos uma EDUCAÇÃO absolutamente livre e dinâmica carregada de teorias mas quem está estático e desprovido de atuação são os professores.

Talvez precisemos fazer como o grande Rubem, ensinar primeiro a beleza seja ela qual for - das flores, dos sonhos, da vida... semear as origens que aos poucos foram se perdendo, porque os infantes de hoje são absolutamente diferentes daqueles de décadas atrás.

O dinamismo da sociedade fez com que toda sua estrutura mudasse.

A família mudou e é de dentro dela que saem os alunos nossos de cada dia.

O aluno, hoje, vem abastecido de tudo aquilo que não precisamos como material didático em sala de aula. Traz consigo a desestrutura familiar, a fome, a miséria social absoluta tanto na amplitude  material quanto nas questões que vão para além da matéria.

E para isto há que se rever de dentro para fora, enquanto educador, saber se antes de encantar o aluno este mestre/professor sabe se encantar, contemplar a beleza de ensinar, se ele está ou foi preparado para ouvir junto com seus educandos as mais belas melodias, juntos, para só então adentrar na tão difícil ARTE de ensinar sistematicamente.

A caminhada ainda é grande! Os caminhos cheios de bifurcações. Impasses de que a culpa não é de ninguém, quando na verdade todos nós somos responsáveis.

Com olhar sereno, de quem passou muitos anos em salas de aula e com uma criticidade muito grande tento todos os dias arregaçar as mangas e não deixar a impotência me dominar.

Há soluções, porém não há fórmulas mágicas!

Professor não é sacerdócio. É uma profissão que sempre viveu à beira de abismos.

Sabe-se todo aquele que agarra este trabalho que quem entra na chuva molha-se todos os dias em que esta cai.

Não sei mesmo dizer em qual estação fiquei esperando o trem passar, mas o que ouvi foi só o ruído da máquina ao longe... apenas sei que talvez um outro passe, mais moderno, mais autêntico, mais cheio de passageiros dispostos a uma boa prosa, a partilhas, ao encantamento dos sonhos, mesmo aqueles que foram desfeitos...

Piui...Piui...Piui... 

Vamos subir ao EXPRESSO ORIENTE que nos levará a uma viagem entre o TEMPO e o ESPAÇO e que esta viagem possa nos abastecer de ESPERANÇAS para continuarmos a saga da EDUCAÇÃO.


                                                                                                                          (Malu Silva)










19 comentários:

  1. Ei Malu,

    Amiga, num é que gostei desta proza?

    Olha interessantíssimo o que Rubem Alves disse, e fez meus olhos brilharem a prosear com ele .O despertar da curiosidade, da sensibildade, da emoção pode levar o educador a grandes conquistas profissionais.Despertar o interesse do aluno através do encantamento, fazendo o ter vontade de conhecer, aprender sem ter as rotinas impostas. A inovação no trabalho poderá acarretar grandes mudanças na educação, embora desconhecermos em qual estação parou o trem...

    Amiga, Beijos, e amei esta página que ainda não conhecia, apesar de não ser uma professora sou admiradora dessa profissão...

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    1. Amiga, é sempre um prazer ver sua opinião por aqui. Abraços

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  2. Muito boa colocação. Não exerço mais magistério, mas reporto-me à experiência como ex-professor universitário.
    Despertar o interesse, claro. Ressaltar valores menos materializados, colocando-nos sempre donos e nunca escravos, sim, fundamental.
    Mas é necessário disciplina. Gostar, não basta. O processo de aprendizado e de sua fixação exige dedicação, renúncia e humildade por parte do aprendiz. Exigir isso também faz parte do papel do professor.
    Em que estação perdemos o trem? A meu ver quando uma plêiade de teorias acadêmicas (ou não tanto) que passou a desconsiderar esse papel, considerando-o inadequado num processo libertário pendular, onde a palavra do aprendiz tem o mesmo peso da do mestre. (FregaJr)

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    1. Pois devemos saber que um profissional é sempre construído, ou melhor, se constrói com muita técnica específica a sua área de atuação e também com intuição, errando e aprendendo, sendo cientista de suas experiências ao longo de sua forma de atuar.
      Precisa sim, de disciplina e de muito estudo, aleatoriamente não se vai a lugar algum.
      Muito bem colocada suas palavras. Grata pela sua opinião.
      Abraço, meu amigo!

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  3. Malu:
    Amei seu texto, tanto pela poesia do mesmo quanto pela sabedoria de suas palavras.
    Precisamos de mais professores com essa ótica.
    beijos

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    1. Atena, amiga, estarei mais presente neste espaço. Vamos criar um espaço bem bacana na medida do possível.
      Fiz um marketing do espaço no facebook. Foi muito bem aceito. Abraços, minha linda e vamos em frente!!!

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  4. Belo texte Malu ,
    bela reflexão , e muito boa a colocação do Rubens Alves .

    Me fez lembrar minha alfabetização ,
    lembro que se usava desenhos de animais ou figuras para representar as letrinhas , o que tornava o aprendizado prazeiroso e divertido .

    Não resta dúvida de que o trem passou ,
    Mas acredito que ele vai voltar , modernizado , renovado , um metrô na verdade . Mas quem o perdeu e se perdeu não poderá pega-lo . Somente quem se reciclou e evoluiu .

    abs
    Francisco

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    1. Pois sim Francisco!! Saudades dos grandes tempos em que as salas de aula tinham no mínimo disciplina e respeito. Aí eu fico a pensar que o trem passou e nós não sabemos em qual estação o perdemos. Grande abraço e grata pela sua contribuição.
      Venha sempre!!!

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  5. Malu, eu estou lendo um otimo artigo na ultima veja, trata de uma pesquisa muito grande sobre como o Brasil é visto pelos brasileiros, mas, principalmente, pelos estrangeiros. Nosso perfil geral, felizmente, melhorou. Contudo, eu penso, que o que faria a enorme diferença está exatamente na educação e cultura. Estas duas palavras não estão somente ligadas ao que aprendemos, mas tambem na herança passada entre as gerações que ensina os deveres e direitos. Quando isso for levado muito a sério e por maioria, entao seremos maiores.
    Beijos

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    1. Sim, Sissym, tem razão!!! Muitos acham que tem só direitos e esquecem dos deveres.
      Abraços

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  6. Malu, como não descobri você antes? Um texto elucidativo, inquietante, mas sem perder sua marca; esse seu jeito de imprimir leveza em tudo que escreve! Reflexões sérias sem dúvida... Talvez tenhamos "perdido o trem" quando deixou-se de dar limites à criança, ao jovem. O respeito ao outro está banalizado, com suas consequências nefastas. Não há mais espaço para o ENCANTO... e o Rubem Alves??? Sou mineira, como ele; ainda não o conheço pessoalmente...e você, afortunada, pode compartilhar do DESLUMBRAMENTO que deve ser conviver com Rubem Alves! Beijos.

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    1. Jussara, minha linda, a VIDA já é tão dura. Saem lágrimas da alma todos os dias... temos que abordar as coisas de maneira leve e respeitar a visão de todos. Afinal, cada qual carrega uma evolução. Eu mesma, tenho muito a evoluir e melhorar.
      Abraços

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  7. Ótimas as suas palavras, um texto de muita riqueza e sabedoria. Quando diz que o "ONDE PERDEMOS O TREM?" realmente o perdemos e temos de encontrar este ponto, quem sabe assim encontramos a forma correta de retomar as rédias para construir uma sociedade com mais respeito e dignidade. Precisamos encontrar a beleza de se viver e a magia de construir o mundo dos nossos filhos. Abraço Malu muito bom mesmo seu texto.

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    1. Marcos, estamos nas estações todos os dias, cheios de esperanças e trabalhando muito e no aguardo de uma nova embarcação. Grata pela sua valiosa impressão deixada aqui. Abraços

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  8. Como futuro educador, adorei o seu artigo!
    O pior é que, como a população não percebe que a educação é muito importante para o futuro dos seus filhos, não cobram dos políticos e fica desse jeito, onde a última coisa que pensam é em investir em Educação.

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    1. Pois é bem verdade!!!
      Investem em valores totalmente aversos e esquecem de que só se constrói o HOMEM pautado na ética e na moral. Estas estão dentro da boa educação. Mas sejamos pacientes... Um dia tudo melhora. Sejamos otimistas.
      Abraços e grata pela presença!!!

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  9. O problema da educação além da política é exatamente a teoria.

    Abraço

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    1. Aclim:
      Concordo plenamente com você.
      Obrigada pela visita.
      abraços

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    2. Geralmente teorias e políticas não se fundem como deveriam...
      Quem cria as teorias está fora das salas de aula e em mão contrária aà politica. Que me perdoem os grandes estudiosos, mas quase sempre as teorias, necessárias, sem dúvida, precisam ser bem aplicadas, pois são UTÓPICAS.
      Grata, Aclim e Atena por esta oportunidade.
      Abraços

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